A mancha - papoila - 3/8



Arminda vivia agora sozinha com o filho. A sua mãe morava na casa ao lado – por ali, as casas nasciam como acrescentos, organicamente, à medida da vida.

Talvez nunca tivesse amado verdadeiramente o marido. Sempre fora uma segunda escolha. Percebeu isso quando ele desapareceu. Um dia, quando voltou do trabalho, o Luís não estava em casa. E não voltou a aparecer. Procuraram-no por todo o lado. Julgaram-no morto. E talvez estivesse. Mas Arminda acreditava que não. Acreditava que se fora simplesmente embora. Nada mais.

Sentiu apenas um vazio. O mesmo vazio que a acompanhava há muito tempo, nada mais. 

Poucos dias haviam passado sobre o funeral do filho de Henrique. Desde que acontecera a tragédia, que ele não lhe saía da cabeça. Não sabia como lhe falar. Mas agora eram ainda outros os pensamentos que invadiam a sua mente. Pensamentos a que em nenhum momento se poderia autorizar; contudo tinha-os.

Uma papoila crescia entre o cimento quebrado das escadas de sua casa.

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