O QUINTO FILHO, DORIS LESSING (Tradução de Cristina Rodriguez)
A catalogação de um livro dentro de um determinado género é sempre redutora. No entanto, talvez seja útil, neste caso, como meio de compreensão do mesmo. Numa entrevista em 1988 ao New York Times, a autora classifica-o como uma ‘uma história de terror (ou horror) clássica’. As histórias de horror são, muitas vezes, formas de ventilar medos profundos, ou recalcamentos de ordem psicológica, materializando-os na forma de um demónio, monstro, fantasma ou semelhantes. Neste caso, o horror é concretizado na invasão, primeiro de um corpo e depois de um grupo, por uma criatura de forma quase humana, mas definitivamente diferente, de uma subespécie ancestral, que reemerge por acidente. Ben, o quinto filho, é classificado como um monstro, projeção de um passado recalcado, “não-civilizado”, que choca com a família perfeita, “civilizada”. A certo ponto, Dorothy, mãe de Harriet e avó de Ben, diz: “ele pode ser normal pelo que é, mas não é normal pelo que somos” . O que torna o livro notável é a a