A mancha - fogão - 6/8




Gabriel, o filho de Arminda, acordou com o estrondo. Levantou-se.

Cruzou-se com a mãe no corredor. Parecia irritada. Nem sequer lhe disse bom dia.

Henrique estava caído no chão, com as calças enroladas por entre as pernas. Não conseguia levantar-se.

Quando viu Gabriel, de pijama, à porta do quarto, não conseguiu deixar de pensar no seu filho. Então, uma grande e profunda tristeza invadiu-o. Começou a chorar. Convulsivamente. A sua tristeza era agora maior do que todas as outras dores. Esgotava toda a sua energia e sentia-se incapaz de se mover. As lágrimas ardiam-lhe na face.

Gabriel olhou para trás, para a mãe, que se afadigava na cozinha, preparando o pequeno almoço. Por despeito, procurava ignorar o choro de Henrique. Mas não o conseguia e a todo o momento a sua atenção se quebrava e a sua mente divagava em pensamentos sem fim, como nas suas noites de insónia. Queimou-se no fogão e disse uma asneira. Isto pareceu despertá-la.

Gabriel tinha-se sentado no chão, junto a Henrique, e passava-lhe cuidadosamente os dedos pelo cabelo e pelas costas. O seu pijama tingia-se já de sangue. Não chorava. Olhava apenas para a mãe.

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