TEMPO
Estava perdido. Por isso, pedi ajuda a um vagabundo.
– Leva-me até casa?
Acedeu de imediato. Tanto tempo. Que riqueza.
Comprei-lhe algodão doce como quem corrompe uma criança. A facilidade com que chorou perante uma nuvem de açúcar cor de rosa comoveu-me. Tive vontade de ficar na sua companhia – para sempre. De chorar a sua riqueza. Tanto tempo e nada que fazer. Blocos sólidos de tempo.
– Quantos gramas quer, minha senhora?
A facilidade com que dissipamos o tempo.
– 250. Corte fininho.
Foi-nos dado tempo. Nada mais.
Quantos pensamentos cabem numa fatia de tempo?
Que se foda a rainha de copas e as suas rosas vermelhas – alguém as pintará. Não estou atrasado, tenho todo o tempo do mundo. Os gatos sorriem por entre as árvores. E o chapeleiro bebe chá de menta até ficar embriagado.
A negação gera tempo. O silêncio cava muros. Os muros geram tempo.
Alguém com quem desbaratar o tempo. Como quem lambe tetas.
Alguém de quem tomar a coragem.
Uma felicidade. Nada mais.
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