MELRO


Não há nada tão comovente como o ensino da mentira
Os melros também se escondem por entre a folhagem
A dissimulação sustenta o mundo
Aprende a roubar e a mentir
São habilidades animais
Aprende a corrupção
A decadência que ilumina
Ama o crime
Propaga o vício
A inocência é uma febre
Violenta o corpo
Podes estar certo da tua humanidade
Enrola os caracóis torcendo os dedos
Porque os ossos também são flexíveis
– a mentira é uma espécie de imaginação –
E, quando cantas, todo o teu corpo é elástico
A corrupção chama a inocência
E a elasticidade é própria dos poetas
Os melros também matam
A sua canção é um grito de guerra
E tomam escalpe sem piedade
O silêncio do gato é uma cantiga para o melro
Que tem asas e prodigiosa vantagem
Quando as meninas aprendem a lubricidade
Os velhos ensinam-lhes histórias de amor
Todos contam felizes mentiras
E cantam a alegre corrupção
Porque a inocência é febre
Que uma vez dissipada
É apenas dissimulado ardil
Como o olhar fixo com que o gato
Convence o melro a morrer
A sua negra distração é a última das mentiras


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