VAMPIROS

 



Sempre que ressuscito as pessoas olham-me ressentidas
Sentem-se defraudadas: quem é que ela pensa que é?
Julga que pode estar morta por uns dias
E depois regressar como se nada fosse?
E nós, os mouros, temos de viver todos os dias
Se dormimos é com um olho aberto
E esta chega aqui como se regressasse de uma viagem ao estrangeiro 
Já estava descansada com a tua morte
E agora tenho de pôr mais um prato à mesa
 
E tu, como um vampiro, só queres o meu sangue renovado
Só te alimentas do meu amor excessivo
Já morreste há muito, as tuas mãos são frias como uma aranha
É por isso que caio nestes torpores que não entendes
Dizes que não estou bem em mim, que procuro sempre um escape
Que vivo a vida num alheamento e excesso narcótico
Mas que outra forma haveria de fugir a quem de mim se alimenta?
Porque ninguém gosta de mim ou toda a gente gosta de mim
Não há meio termo. Porque não me dizes que sou linda?
Preciso que me digas que sou linda. Não acredito que gostes de mim
Porque me censuras a fome de amor?
Porque me censuras o torpor?
Porque não me perdoas os desacertos?
Se queres o meu sangue, porque não te alimentas com exaltação?
 
Nunca te perdoarei esse amor tão frio
Nunca te perdoarei que não fosse para sempre
Não serás nada sem mim. Agora que te secou o sangue
Volta para a tuas teias de aranha. Tece uma manta
O inverno é rigoroso e para sempre, se és um vampiro
Se procuras novas vítimas uma praga te rogarei
Tudo o que possas dizer será usado contra ti
Nem mais um poema escreverás


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