APNEIA, TÂNIA GANHO
O tema é forte, mas é
também um terreno escorregadio. Um passo em falso e o resultado seria
desastroso. Não é o caso.
Gosto muito da abertura do romance: "Mais tarde, teve de fazer um esforço para se lembrar se a carruagem estava parada na estação ou em movimento, mas, sim, estava parada e quase vazia. As pessoas já tinham saído ou entrado, ela não se apercebera, porque mergulhara num poema de Sharon Olds e seguira num verso um peixe ondulando, saía de uma cozinha numa bandeja e pousava numa toalha de linho sob as velhas árvores da vida. Era de morte que falava o poema." Introduz perfeitamente a personagem principal e a sua índole, mas também o que se irá desenrolar de seguida.
Depois, embora o livro
possa à primeira vista, pela sua dimensão, ser usado como arma de arremesso, a
sua leitura é muito fluída (e a paginação generosa). É explorada com grande
profundidade, para além do óbvio, a psicologia da relação entre agressor e
vítima. Em momentos chave consegue arrancar até ao mais empedernido dos leitores
um soluço de choro. A empatia é inevitável porque foi escrito com
honestidade.
Uma das passagens mais fortes do livro ocorre já perto do final (podem lê-la na foto).
Sinto algum pudor em
tentar desmontar o livro... em analisar as suas opções como um meio para
produzir um determinado efeito. Sinto que isso trairia a honestidade,
sensibilidade e sentido de dever com que foi escrito.
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