O ESCRITOR

Durante muito tempo escreveu. À noite, ao fim-de-semana, sempre que podia. Racionalmente, entendia que a escrita dificilmente poderia ser sustento para alguém. Argumentava até que era preferível não depender dela para ser verdadeiramente livre. Para escrever o que muito bem entendesse.

Mas, no fundo, a ideia romântica do escritor pobre e devotado ao seu ofício, suportando tudo pelo amor à sua arte, nunca o abandonou.

Quando por fim se despediu do seu emprego, se separou da mulher que nada entendia, e se dedicou completamente à escrita, não conseguiu escrever mais uma única página. Hesitava constantemente. Procrastinava. Ia ao café. Fumava cigarros. Cismava. Mas não conseguia escrever.

Passava fome. Já não tinha amigos ou mulher que o distraíssem. Mas não conseguia escrever. Não conseguia pagar a renda e mudou-se para uma casa ainda mais decadente, mas não conseguia escrever.

Morreu tuberculoso, sem mais nada escrever.

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