Láudano
Um pouco de láudano, por favor. Preciso de uma coisa antiga, fora de uso, que me que me insensibilize. Estou com certeza doente, mas é ridículo. Trata-se de um excesso de sensibilidade, acredito. Sinto todas as coisas, até os objetos, como se respirassem debaixo da minha pele. Comovem-me. Mas nada disso se compara aquela mulher. Aquela mulher provoca-me insónias.
Um velho com insónias não é coisa de admirar. Os velhos não dormem. Têm medo de não acordar. Mas acreditava que fosse já imune a estes disparates. Um disparate. Como pensá-lo de outra forma?
Quando a oiço falar o meu coração abranda. Ameaça parar. Como que para a escutar. Como se fosse necessário, absolutamente necessário, uma imobilidade total.
Às vezes dança para mim. É melhor do que fazermos amor. Quando fazemos amor é quase triste. É como se morrêssemos um bocadinho.
Eu não sei dançar. É um defeito de caráter. Por isso, ela dança para mim.
Mas devo esquecê-la. Pois toda a doença procura a cura, ou a extinção; e a angústia deste amor (que alguns negariam) é perfeitamente insuportável, pois não pode ser apaziguado – ela nunca, nunca, poderá ser minha. A única coisa que me ocorre, meus senhores, é um pouco de láudano. Talvez me abrande o coração e embote os sentidos. Como ela.
Só mais uma dança. A última. Prometo.
Não gosto de sapatos. Dança descalça, por favor.
Não querida, não tenho mais dinheiro.
Uma última dança, por favor. Por piedade. Para que não te odeie.
Deixa-me ver os teus pés. São divinos. Quero morrer agora.
Um velho com insónias não é coisa de admirar. Os velhos não dormem. Têm medo de não acordar. Mas acreditava que fosse já imune a estes disparates. Um disparate. Como pensá-lo de outra forma?
Quando a oiço falar o meu coração abranda. Ameaça parar. Como que para a escutar. Como se fosse necessário, absolutamente necessário, uma imobilidade total.
Às vezes dança para mim. É melhor do que fazermos amor. Quando fazemos amor é quase triste. É como se morrêssemos um bocadinho.
Eu não sei dançar. É um defeito de caráter. Por isso, ela dança para mim.
Mas devo esquecê-la. Pois toda a doença procura a cura, ou a extinção; e a angústia deste amor (que alguns negariam) é perfeitamente insuportável, pois não pode ser apaziguado – ela nunca, nunca, poderá ser minha. A única coisa que me ocorre, meus senhores, é um pouco de láudano. Talvez me abrande o coração e embote os sentidos. Como ela.
Só mais uma dança. A última. Prometo.
Não gosto de sapatos. Dança descalça, por favor.
Não querida, não tenho mais dinheiro.
Uma última dança, por favor. Por piedade. Para que não te odeie.
Deixa-me ver os teus pés. São divinos. Quero morrer agora.
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