Cemitérios (Apocalipse)



Havia apenas uma estrada que dava acesso à povoação. Em seu redor espraiavam-se, sem intervalo, sucessivos cemitérios. Não havia espaço para mais nada. Toda a terra arável estava tomada e a população passava fome. É que ali não se levantavam os mortos da terra. Todos tinham direito ao seu quinhão, para toda a eternidade. É claro que o número de mortos é sempre crescente e o espaço finito, pelo que a insustentabilidade daquela situação era perfeitamente previsível.


Quando perguntei ao chefe da aldeia o que tencionavam fazer, respondeu-me:

– Vamos utilizar a estrada.

– Mas já não têm que comer. As crianças morrem à fome.

– Temos ainda a estrada. Depois acaba-se.

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