Imobilidade


Havia um quadro pendurado na nossa sala. Passava horas a olhá-lo. Tinha um moinho de água, sob um ribeiro de águas agitadas; e à sua frente uma ponte tosca. Um homem de cajado na mão apressava as mulas carregadas a atravessar a ponte. Uma senhora, perfeitamente imóvel, olhava-o. Que pensar do seu olhar indefinido? Da sua imobilidade? Um homem saí do moinho – vai a algum lado. Numa espécie de varanda por cima das arcadas do moinho, um vulto de mulher estende uma toalha branca – porque faria isso? À esquerda, uma árvore bem alta. Ao longe, um casario acastelado, com torre e um arco de passagem. Mais além as montanhas, numa névoa. Pelo caminho, vindo desse casario, quase a transpor a colina, junto à árvore, a mancha indistinta de um cavaleiro a galope. Que notícias trará?

A imobilidade do quadro era um logro. Tudo se movia.

A minha avó ficou doente. 

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