As mulheres amam melhor do que os homens

É do conhecimento geral que as mulheres amam melhor do que os homens. Sabemos também que os homens são ridículos. Mais do que quaisquer outros, precisam de amor. É mentira que os homens não gostem de beijos. Os homens adoram beijos. Quando estão apaixonados, sonham com o cheiro da mulher que amam. Chegam até a imaginar o aroma do seu pescoço, o toque dos seus cabelos. 

O mecanismo pelo qual se desenvolve uma paixão é essencialmente desconhecido. Mas é certo que nos apaixonamos por alguém quando precisamos de ser amados; não quando o outro nos ama também. Tal desencontro é por vezes doloroso. O apaixonado teme pelo ridículo da sua posição, ou tenta adiar uma rejeição que não pode suportar. Fecha-se então sobre si mesmo; e não há nada pior do que a nossa companhia quando precisamos de amor.

Acontecem, porém, muitos casos de amor correspondido. Seja lá de que forma, mas quase sempre ridiculamente, descobrem que se amam. Dizem pequenas coisas, trocam determinados olhares, brincam e desdenham, até que sobre o seu próprio peso, o amor se revela. Pode começar com toque ocasional entre as suas mãos; as suas caras podem ficar demasiado próximas por momentos – então o coração acelera e é com alívio que se veem correspondidos. Não o poderiam saber, mas esse foi o melhor momento de toda a sua vida. Nada mais haverá de tão excitante quanto esse jogo. E em certo sentido, é a partir desse momento que o amor começa a morrer. 

Os dois partilham intimidades. Sentem o conforto de ter alguém e serem amados. Fazem planos. Tornam-se industriosos. Têm filhos. Mas já não sentem aquele frio na barriga, a excitação de não saber, de não conhecer ainda… Uma teia amarra-os. É por vezes demasiado difícil sair. Ninguém toma a iniciativa. Ninguém quer ficar sozinho. O amor continua quase sempre a existir, mas já não é o mesmo do primeiro beijo. Os primeiros beijos, a primeiras vezes que fazem amor não se repetem. 

Por vezes, o amor transforma-se em ressentimento. Achamos permanentemente que o outro não faz tudo o que poderia, que não nos ama o suficiente ou da mesma maneira; os hábitos e tiques do outro tornam-se insuportáveis em vez de adoráveis; tentamos mudar ou conformar o outro – e pudéssemos nós ouvir os seus gritos surdos e recuaríamos de horror. 

Nada mudou. Foi apenas o tempo a passar. O tempo a desmascarar a nossa ilusão, o doce engano – um engano que torna tudo suportável. Uma ilusão que nos eleva sobre o absurdo.

Aconteça o que acontecer, temos os filhos, os irmãos talvez, pai e mãe durante algum tempo. Mas esse é um tipo de amor diferente. É perfeitamente incondicional. Não é renunciável. Não foi sequer uma escolha. Somos do mesmo sangue, da mesma massa. 

Mas como é bom apaixonarmo-nos novamente. Como é bom o doce sofrimento de não nos sabermos correspondidos – a ansiedade que nos agita o coração. Ela, que não nos saí da cabeça. Ela, a todo o momento. O que lhe havemos de dizer. Como havemos de conquistar o seu coração? Como será o seu beijo? Queremos provar a sua boca e rir.

Já não acreditávamos que disso fossemos capazes. Acordámos de um coma e a vida afinal não acabou. Sentimos o sangue fervilhar e de novo procuramos a generosidade das mulheres. Não sabemos fazer outra coisa. Não nos bastamos a nós mesmos. Somos ridículos. 

Mas as mulheres amam infinitamente melhor do que os homens. A sua empatia não é fingida. Se os homens precisam sobretudo de ser amados, as mulheres precisam de amar; não o podem evitar. 

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