NÃO SE PODE PARAR O MUNDO


Um comboio passa lentamente, à distancia, iluminado. Vai para longe.

Fico a olhar. O dia desponta. Chega um outro, de mercadorias, soturno e lento. É talvez interminável. Dia após dia, o mundo constrói-se. Desmantela a escuridão – que é também o mundo, calado.

Tal como os comboios, as nuvens, respingando aguaceiros, avançam incontrolavelmente. Não se pode parar o mundo. Mesmo de persianas corridas, mergulhados no escuro, deitados na cama com a eventual companhia de um cigarro, nos desfiamos e consumimos. Não nos conseguimos deter. Os olhos não param. E, por simpatia, o pensamento também não. Chega e parte. Soturno ou iluminado. Da mesma forma que não se pode interromper a água: um copo de água na minha mão é ainda uno com o mar e com a chuva. A ponta do cigarro a arder é ainda todo o mundo que se consome e inflama. E teu pensamento é ainda o meu pensamento. De que outra forma poderias ler isto?


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