ISTO NÃO É UMA NAVALHA
Uma vez,
cortei-me no fio falho de
uma navalha.
A sua inanimada má
vontade,
deixou-me desperto e
ressentido:
Mordeu-me como um cão
– a desgraçada!
Mas isto não é uma navalha.
A navalha não morde
como os amantes.
A navalha
não geme.
A navalha
não é doce, não cheira bem.
A navalha não embriaga.
Não nos queda estúpidos
e tontos, ridículos nos pequenos nomes.
Volvendo-nos em ânsias de posse.
Em ânsias de dor e prazer.
De dar e receber.
No final,
tudo o que nos resta
é o fio da navalha.
A sua linha falha
e uma direção apenas.
Mais vale percorrê-la
em saltos mortais,
encarpados,
com saídas à retaguarda,
piruetas
e flic-flacs.
Mordendo e lambendo.
Troçando do perigo.
Embriagados.
Estúpidos.
Dizendo: isto não é uma navalha.
Só
é
possível
percorrer o fio da navalha
despido
em flor
com amor;
e o resto pouco importa.
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