Umbilical

©2017 by Alexandra-Puff
Desperto apenas ao som de mórbidas divagações. Uma simples palavra pode ressuscitar-me, resgatar-me; mas apenas uma palavra. Tudo o resto me parece uma neblina sem fim; um sono.

Tudo me é indiferente. Sou um invólucro vazio. Oco. Uma casca onde ecoa interminavelmente o vácuo.

Alguém. Sonho com alguém.

Eu sou, eu sou, eu sou. Que ruído indistinto, constante e avassalador. Calar este ruído. Substituí-lo pela surda curva de um seio. Por umas mãos delicadas, que me rasgassem as orelhas. A mais terna dor. Um prazer insuportável.

Não falar. Não falar. Não falar. Como se o fizéssemos.

Ou eternamente murmurar amor. Sem esforço, como o murmurar de um ribeiro. O seu eco fresco na nossa testa, sobre os olhos, como pano molhado. O verde líquen para sempre enclausurado sob as tuas mãos. E mais ninguém. Mais ninguém. Obsessivamente mais ninguém.

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