O LIMITE DO DIA


Escuta o rumor das árvores ao fim da tarde. 
Falam contigo no limite do dia.
Debruçadas sobre um muro, na raia do tempo –
àquela hora em que o vento sopra 
e as faces se pintam de sombras perpendiculares – 
as suas folhas agitam-se em mussitadas alocuções.
Quem o poderá negar?

Seria uma estupidez 
pensar
que as árvores não falam.
Embora 
obviamente
ninguém conheça a sua língua.

Na escola, 
aprendemos afinal duas, 
às vezes três, 
línguas estrangeiras.
Mas não o dialeto dos plátanos.

Como não acreditar na sua terna dicção?
Como não acreditar no fim do dia?
Como não acreditar nas suas infinitas possibilidades?
Como não acreditar nessa posição de fronteira?
Como não acreditar
meus senhores
na revolução?
No esquecimento e no movimento astral.
Talvez acredite mais no fim do dia, do que na língua das árvores.
Mas, hoje à noite, vou esquecer os homens.
Vou ter um conversa com aquele choupo.
Aquele mesmo ali, no fim da avenida.
No ponto exato em todas as coisas deixam de ser.
Como num fim de tarde. Todas as tardes.

As árvores estão por todo o lado.
E, ao fim da tarde, murmuram.

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