ABRO UM LIVRO

Hand Of Woman Reaching Out From The Dark Stock Photo, Picture And ...

Abro um livro no escuro.
O seu cheiro contamina-me as mãos.

É impossível ler.
Ainda assim
Sinto prazer 
Ao acariciar as páginas
Repletas de caracteres.

Abro um livro no escuro
Abro um livro no escuro
Abro um livro no escuro

Repito-o até à sudação.
Até que lhe arranque algum sentido.
Mas há frases que resistem
a um mero espancamento.
São inquebráveis, recusam o estilhaço.
O que haverá de intangível nesta ideia?
A ternura da compulsão? 
        Ainda que estéril.
Ou apenas uma transgressão?
        Toda a gente sabe que os livros 
        não se leem no escuro.

Mas alguma vez fizeste
– nem sei como dizê-lo – 
alguma coisa 
que 
não fosse
ler no escuro?

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