ÉS FILHO DE UM CIGANO



És filho de um cigano 
A mãe foi buscar-te
debaixo da ponte
Não és meu irmão 
Mas nós gostamos de ti na mesma
Eles não tinham dinheiro para te dar de comer
Não tinham dinheiro para te vestir
Ou simplesmente não gostavam de ti
Talvez fizesses muito barulho
Ou chorasses muito
Agora, embora não sejas um dos nossos,
É quase como se fosses
Não acreditas?
Pergunta à mãe. 
Se ela não te contar a verdade 
É apenas porque gosta de ti
Não te quer magoar
Mas tu és filho de um cigano
Não és meu irmão de sangue
Não sabias?
Ninguém te tinha dito?
Mas mesmo assim gostamos de ti. 

Não acredito 
É mentira
Seria possível gostar tanto da minha mãe 
Se assim fosse? 

Ela não é tua mãe 

Não digas isso
Não é verdade 

É verdade
Pergunta à mãe 
Pergunta ao pai 
Pergunta ao avô 

Não quero perguntar
Prefiro não saber
E tu, como é que sabes que és filho deles? 

Já olhaste para mim?
Já olhaste para ti?
Não vês como somos diferentes?
Por isso é que a mãe gosta mais de ti
Porque não és filho dela
Para compensar 

Meu irmão, 
Somos muito diferentes.
Eu não pertenço a nenhum lugar
Nem a nenhum sangue 
O meu pai é coisa nenhuma
A minha mãe não me pariu 
E efebo algum me precedeu
Sou só 
Sem qualquer filiação 
Sem qualquer parentela
Filho de um cigano errante?
Nem sequer isso 
Sou um animal diferente
Que denega todo o amor
Pois não quero o que me possam tirar 
A minha mãe não é minha mãe 
Apenas para que não me possa morrer
Não devo qualquer respeito ao meu pai
Para que não o possa dar por perdido
E a ti qualquer fraternidade 
Que dê por mal empregue
Se assim não parece
Fica sabendo que é apenas 
Por mera simulação 

És filho de um cigano 
Isso, só isso e nada mais do que isso.
Não conheces uma brincadeira?


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