PELUCHES DE SUPERMERCADO

 


Um rapaz gordo
com lábio inferior proeminente
simultaneamente sensível e boçal
incomoda as raparigas
da caixa do supermercado
de caderneta em punho.
Quer o seu peluche
Aquele que lhe falta para completar a coleção.
O mais incómodo é a sua hesitação.

A mãe observa-o complacente
com os sacos das compras na mão.
Faces descaídas e olhos mortiços.
Vamos ver se ele se safa sozinho:
já tem 30 anos.
Um rapazinho delicado
de pele clara e cabelos loiros
bamboleando nas suas calças pretas
puxadas por cima da rotunda cintura;
ténis brancos e camisa
por debaixo de um pullover
num dia quente de primavera.
O que será dele quando a mãe morrer?
Continuará a fazer coleções de peluches
e a comer doces em demasia?
Será esse todo o seu conhecimento do amor?

Mas não o leiam com desdém.
Quantos de nós não colecionam convivas
como peluches de supermercado?

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