O HOMEM MAIS ALTO DO MUNDO


A morte atua por circunscrição
num progressivo isolamento
em que todos em nosso redor vão desaparecendo, destacados pelo picotado.
Primeiro reconhecemos a existência
dos outros. Ocupam um espaço dentro
da nossa pele. Depois
somos confrontados com a sua
ausência. Vamo-nos enchendo de fantasmas.
Os outros, que nos delimitavam
como um corredor de espelhos
curvos, côncavos e convexos
esfumam-se; já não nos conseguimos
recordar da cor dos seus olhos.
À entrada do corredor
estava o homem mais alto do mundo, sempre curvado e subserviente,
de cara alongada e dentes cavalares
dando as boas-vindas.
À saída está o anão
rebolando as ancas e
fazendo troça de toda gente.
E nós, tal como os vampiros,
deixamos de ver o nosso
reflexo no espelho.
Resta-nos o conforto interior
do sangue
revolvendo incessantemente
quente por teimosia
sempre denegando.

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