SALTA

Salta pela janela.

Salta pela janela.

Tira os óculos. Guarda a carteira.

Salta pela janela.

Grita, corre.

Salta pela janela.

Como uma pedra, como um tronco.

Salta pela janela.

Enquanto cais, os teus vizinhos jantam.

Os teus vizinhos, sentados no sofá, veem televisão.

Os teus vizinhos discutem acerca da conta de eletricidade!

Os teus vizinhos beijam-se!

E tu cais. Cais.

As janelas do prédio passam à tua frente

como um comboio a toda a velocidade!

Soprando-te os olhos.

Revirando-te as pálpebras.

E tu cais… de cabeça para baixo…

Cais.

Infetado, maduro. Cais.

Quando tocas o chão,

a ponta do teu pé impulsiona-te como um tiro.

E corres e saltas, como um adolescente

que a meio da noite se esgueira pela janela do quarto.

A noite cinge-se ao teu corpo e voas sem esforço.

Ah, salta pela janela! Salta pela janela!

Por deus, salta pela janela!

E corre! Corre como se o verão fosse eterno

e a memória ainda estivesse por fazer.