BABILÓNIA, ANA CÁSSIA REBELO

 


Aninhas está por todo o lado; não há um conto em que não apareça uma Aninhas. Aninhas é um nome simultaneamente ternurento e condescendente (o que andas a fazer Aninhas?) o que poderá indiciar algo sobre a sua natureza. Sendo muitas personagens diferentes é, no fundo, uma única personagem. O que anima Ana Cássia e liga todas estas histórias, muito curtas e bem escritas, é a penumbra moral em que se movem estas personagens e a sua crua nomeação. Todas elas têm uma falha que as ilumina, criando uma tensão dramática, um conflito que excita a leitura. E essa nomeação é ao mesmo tempo uma espécie de exorcismo: como se chamando o nome do demónio lhe dessemos um pouco mais de espaço para respirar, em vez de se alojar entre as costelas e nos pressionar a carótida. É a falha, e ainda mais a consciência dessa falha, a inevitabilidade dessa falha, que espelha a condição humana. As personagens movem-se num quotidiano ao mesmo tempo familiar e burlesco, depurado por um olho sensível e milimétrico, mas avançam por vezes, de forma trepidante e desbragada, para o surreal. Ana Cássia tem um instinto assassino, abre os contos a matar, exatamente como deve ser. Uma leitura forte e divertida – tudo o que deve ser a literatura. Somos todos Aninhas.

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