LÍNGUA MORTA

 

À noite, quando tudo sossega
Os choupos sussurram ao vento
Conspirando numa língua morta
As folhas fremem como soalhas
Que oiço com fiel ignorância
Como quem adivinha os búzios
*
De dia, a multidão arrasta-se
Num rumor ferroviário
Um pesadelo sobre carris
Mastigando carnes secas
Temperadas com vinagre
Para espantar a modorra
*
À noite, a língua não quebra
Conjura o marasmo
Em perversas ladainhas
Cismando dialetos
Na selha sangrenta da noite
Por onde voam ratos cegos

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