LETARGIA


Dia quieto
Perfeitamente imóvel
Tudo parece estar
Na iminência de desabar 


Um dia exangue
Seco até à medula
Cheio de inércias
E diligências atmosféricas
Inconsequentes 

A derrocada é longa 
Mas inevitável
Uma gota de água pode 
Por amor
Corroer uma pedra
É esse o meu suplício:
Letargia à escala geológica 

Não consigo desviar o olhar
Não consigo sequer
Escondê-lo por detrás do ombro
É também amor 
Esta mórbida antecipação
A persistente fixação 
Na lenta catástrofe 

Pode uma gota de água 
Quebrar uma pedra?
Pode o meu olhar 
Namorar essa surda
Vertigem
E não cair? 

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