PERDER COM ELEGÂNCIA
"What matters the most is how well you walk through the fire", Charles Bukowski
Não tenho feito mais do que: perder com elegância.
Toda a vida.
Riscando todos os fósforos.
Demorando-me demais em cada cigarro,
até queimar os dedos.
Deixando apagar outros por distração.
Digo-o a rir.
Com irónica bonomia.
Mas é realmente triste.
Tão triste que tenho mesmo de me rir! – de dizê-lo com displicência.
Como foi possível perder tanto?
Apostas tão altas
e cartas tão falhas?
Mas ninguém me rapa o tacho.
Já não me dou, percebes?
Invento uma coisa
e mostro-a à vida. Toma, aqui tens.
Vamos jogar? Tudo ou nada.
Perder com elegância.
Jogar o bom jogo.
De cara séria.
Ou com um sorriso arreganhado.
Como quem não quer perder.
Sem nada a perder.
É só um jogo.
Joga o bom jogo.
Com fé.
Ainda que com falsas apostas.
Com ternas invenções.
*
Tenho inveja
de tão diferente ter vivido.
Sempre ponderado
e embalado.
Numa doce modorra
conduzido.
Mas, tal como o escorpião
à sua natureza não pode fugir
ainda que quisesse
não era capaz
nem para a minha vida salvar
de serpentar
ir e seguir
avançar e recuar.
Jogar o bom jogo
sem cálculos
ou medos.
Como quem quer perder.
Porque a vitória e a derrota
estão à distância de um erro de paralaxe – fecha um olho.
E em tudo o que fazemos
importa sobretudo
a elegância
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