As Pequenas Virtudes, Natalia Ginzburg
Pequenos ensaios de cariz autobiográfico, escritos num estilo ao mesmo tempo distanciado e profundo, numa prosa perfeitamente límpida e cuidada. Parece falar-nos sobre outra pessoa, falando sobre ela mesma. A profundidade do pensamento, o seu detalhe e minúcia, é, pelo menos neste caso, inversamente proporcional à intensidade com que é relatado. Não se trata contudo de uma escrita fria, é antes ponderada e clara. O seu afastamento torna-se uma proximidade ao leitor. Não é pela veemência exarcebada que se comunicam emoções profundas ou situações dramáticas. Dessa forma o texto chegar-nos-ia como um bolo alimentar dengoso e indistinto, com tempero em demasia, que se sobreporia a tudo o resto, conduzindo a uma insensibilidade geral. O leitor mais experimentado prefere fazer a sua própria digestão, saborear no palato cada um dos ingredientes, e desenvolvê-los. Trata-se, apesar de tudo, de um processo inverso à digestão, não de decomposição, mas de elaboração e expansão.
Sendo impossível escolher um único trecho como citação que ilustrasse a perícia da autora e servisse, ao mesmo tempo, como uma provocação ao vosso apetite de leitura, deixo-vos com uma amostra mais ampla e quase aleatória dos mesmos (ver fotos).
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