CULTIVAR A DESGRAÇA
Queria que
acontecesse alguma coisa
Mas cedo percebi
que só sucedia o que eu o provocasse
O tédio era
constante, essa meia felicidade
impossível de
suster. Era preciso fazer pior
Cultivar a
desgraça. Por isso:
saltava do baloiço
em andamento,
exatamente no ponto
mais alto do seu percurso;
afastava-me dos
meus pais em qualquer
pequena multidão,
perdendo-me;
puxava os bigodes
ao gato
que me detestava e
arranhava
então, mentia e
castigavam-no;
Guiava a bicicleta
de encontro à parede.
Era preciso preparar
o desastre,
debruçar-me sobre o
desamparo do abismo
Nunca tive medo de
morrer,
sempre me pareceu
que seria um lugar melhor:
perfeitamente
quieto, mas não um tédio;
o próprio tédio
seria abolido pela morte
Comentários
Enviar um comentário