A CHARCA, MANUEL BIVAR (Língua Morta)

 


Com uma prosa exuberante, bem ligada e verbalmente prolixa, Manuel Bivar oferece-nos uma narrativa à primeira vista um pouco desconexa, em que não descortinamos imediatamente o sentido na colecção de episódios que mapeiam um universo estranho. A sua natureza insólita é uma virtude; sendo que Bivar é completamente desabrido e impudente, não se coibindo por nada. É talvez estranho que haja menos vozes como esta, que falam do presente com uma aparência distópica, descrevendo-o como lugar pós-apocalíptico que efetivamente é. Nota-se que Bivar corre por fora, não tropeçando na tradição literária estabelecida, olhando-a com mera curiosidade.
Este livro não é sobre a contemplação, mas sobre a imersão. Não é sobre o conhecimento do todo, mas sobre a obscuridade das partes. Sobre a irrelevância da extinção, a permanente imanência da transformação. Há prenúncios do fim ou de um recomeço. A espécie sobrevive essencialmente em cativeiro.

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