LIMPEZAS DE PRIMAVERA
Tenho que dar uma volta às minhas gavetas
Trocar a roupa de inverno pela de verão
E assim me verão (em vez de me inverno)
Sabendo que não me guarda-fato de qualquer maneira
Tenho que dar uma volta ao meu roupeiro:
Aninhados nos meus sapatos
Um par de gatos
Aconchegadas nas minhas meias
Duas sereias
No bolso do meu fato
Um terno rato
Pendurada na gravata
Uma pata
Na camisola de lã
Um pezinho de hortelã
Baloiçando nos cabides
Tenho o senhor Alcides
Vou precisar de um milagre
Para que nada se estrague
Como nas bodas de Canaã
Cambiando vinho com afã
Venha o diabo e escolha
Desde que a roupa não encolha
Fresquinho quero andar
Ir à praia e passear
Vestir uns calções
Desapertar os botões
Chega de rimas
Disseram as minhas primas
Desenhe um organigrama
E não o quero pela rama
Com esta confusão
Que nos valha uma infusão
Vinte cinco mil diabos
Agachados nos lavabos
A lamber os azulejos
Enquanto tocam realejos
Os gatos a miar
Os sapos a coaxar
Que grande revolução
Feche-me esse alçapão!
Vamos lá organizar o fim do mundo:
Na translação da estação
Tira o quente e que o resto não te apoquente.
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