CLUBE DE LEITURA DO COMUM - CORAÇÃO TÃO BRANCO, JAVIER MARÍAS
Na próxima sessão do Clube de Leitura do Comum, a 20 de fevereiro, vamos falar sobre o livro ‘Coração tão branco’ de Javier Marías, com tradução de Fátima Alice Rocha.
Javier Marías (1951-2022), nasceu
em Madrid, filho de Dolores Franco Manera, escritora, e de Julian Marías
Aguilera, filósofo, perseguido pelo regime de Franco. Javier passa parte da
infância nos Estados Unidos, onde o pai ensinou nas mais prestigiadas universidades
da costa leste. De volta a Espanha, Javier Marías estuda Filosofia e Literatura
na Universidade Complutense de Madrid. Publica o seu primeiro romance, ‘Os
domínios do lobo’, muito cedo (20 anos), dedicando-se depois à tradução de
vários autores de língua inglesa, como Faulkner, Henry James, Stevenson. Foi
professor de tradução e literatura espanhola na Universidade de Oxford. Autor
uma extensa obra que inclui romances, contos, crónicas (no jornal El País), bem
como as referidas traduções. Era também conhecido pelas suas idiossincrasias
low tech (não usava telemóvel ou computador, preferindo a lentidão da sua fiel
máquina de escrever Olympia) e por escrever os seus romances sem qualquer plano
pré-definido (segundo o próprio, de forma ‘suicida’).
‘Coração tão branco’ (1992), é um
dos seus romances mais premiados e reconhecidos, sendo uma excelente porta de
entrada no mundo de Marías. É caso para dizer: Bem-vindos ao mundo de Javier
Marías! Um universo paralelo que existe a escassos centímetros do mundo real;
em muito se assemelha a este, embora seja completamente diferente. Desde logo,
pela forma como decorre o tempo, um tempo de veludo e alcatifas, prenhe e
distendido. A sua administração é crucial. É esse repuxar que cria a tensão
dramática. A história talvez pudesse ser contada numa dúzia de páginas, mas é o
seu lento tricotar, o gotejar quase intolerável de sugestões adiadas e só mais
tarde confirmadas, que lhe dá corpo, tornando-a de certa forma irreal, e
irremediavelmente literária. O seu estilo forrado, com longas frases e
parágrafos, envolve o leitor numa penumbra confortável, um sussurro melódico
que preenche tudo – tal como os seus personagens, somos colocados à escuta numa
antecâmera, invisíveis, esperando que o lento gotejar das frases revele a
trama, um engodo para algo mais profundo. Uma constante digressão acerca do
passado, do tempo, do amor, e do preço de conhecer a verdade, como indicia a
frase de abertura: ‘Não queria saber, mas soube que uma das meninas, quando já
não era menina e tinha regressado da viagem de núpcias havia pouco tempo, (…)”.
Há casos em que o estilo serve a história, mas neste caso é a trama, um mero
pretexto, que serve a prosa da Javier Marías – uma melopeia verdadeiramente
encantatória.
Juntem-se a nós!
----------------------------------------
Informações úteis:
· Não é obrigatória a leitura do livro para participar na sessão.
· Quando: Terceira quinta-feira do mês (20 de fevereiro), às 19h
· Onde: Livraria Ler Devagar, na Casa do Comum, Rua da Rosa 285 | Lisboa
· Dinamizado por Pedro Rondulha Gomes, com a preciosa colaboração de Carla Veiga e Isabel Minhós Martins
· Livro de março: Uma família em Bruxelas, Chantal Akerman (Cristina Fernandes)
Comentários
Enviar um comentário